EDUCAÇÃO FÍSICA - DIREITOS E RESPONSABILIDADES?
- Nicholas Somers
- 13 de abr. de 2016
- 3 min de leitura
Este artigo foi desenvolvido por Fernando Vitor Lima, Professor Doutor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia da UFMG - Laboratório do Treinamento na Musculação.
A Educação Física, especialmente na área do fitness, vem experimentando uma influência crescente das tais "regras de mercado". Isto significa que se algo pode gerar dinheiro para alguém, já seria o suficiente para estar automaticamente justificado. Além disto, as redes sociais contribuem para o "Culto do Amador" (Andrew Keen), ou seja, um espaço virtual onde qualquer um pode se passar por especialista, principalmente porque seu suposto conhecimento não pode ser verificado de acordo com critérios adequados. . É a "democracia digital".

No caso específico da prescrição do treinamento físico, vários blogs alimentam um distanciamento entre quem prescreve e quem pratica, colocando em risco a saúde de todos. Estes canais divulgam informações sobre o treinamento através de pessoas com uma aparência física bonita, "sarada", que cultuam o corpo e que apresentam também uma boa capacidade de comunicação; estes são elementos importantes para fidelizar quem acessa tais canais de comunicação mas, muitas vezes trata-se de pessoas sem a formação em Educação Física e/ou sem a utilização adequada dos conhecimentos teóricos e práticos essênciais. Eu não tenho dúvidas que a imagem corporal bem trabalhada permite uma certa "legitimidade" perante aqueles que somente demandam informação rápida e fácil de consumir. Sendo assim, alguns pontos precisam ser devidamente discutidos, tanto com os praticantes que acessam estas fontes como com os profissionais de Educação Física.
1) Primeiramente, com as pessoas que praticam atividades físicas:
Tenho certeza que vocês já sabem que praticar atividades físicas demanda conhecimentos relacionados ao funcionamento do corpo, visando o alcance dos objetivos de forma eficiente e segura para o praticante. E já sabem também que existe um profissional com formação universitária para isto: Educação Física. Vocês também já devem saber que a presença de um profissional com boa formação se torna cada vez mais importante a medida que a demanda física da atividade seja aumentada em complexidade motora, em demanda de força, velocidade entre outras. Portanto, considerando que o acesso a este profissional atualmente está muito facilitado, porque correr o risco de praticar sozinho, somente olhando uma imagem que viu na internet? Pense bem...se pesquisar descobrirá um número preocupante de pessoas que agiram assim e prejudicaram sua saúde e de seus colegas.
2) E quanto aos profissionais de Educação Física:
Sou amplamente favorável ao culto ao corpo, às pessoas que se dedicam a atingir e manter um corpo saudável, "sarado", bonito; isto se aplica especialmente aos profissionais de Educação Física, porque não podemos negar que a aparência física é um recurso essencial para conquistar e manter alunos fiéis ao nosso trabalho. Mas não pode ser somente isto. A aparência necessita estar acompanhada de conhecimento fundamentado.
A utilização adequada dos conhecimentos científicos e práticos para a prescrição do treinamento devem estar sempre garantidas por um profissional graduado em Educação Física, caso contrário, corre-se o risco de uma simples "repetição de procedimentos" por qualquer pessoa, baseada somente na aparência física e capacidade de comunicação.
Neste momento cabe uma reflexão importante: os profissionais de Educação Física estão garantindo isto com qualidade? Porque se tem espaço para "qualquer" um fazer este trabalho de prescrição do treinamento (à distância inclusive), talvez seja (entre outras coisas) porque nós não estamos cumprindo adequadamente nosso papel perante a sociedade. Por exemplo, muitos destes blogs são de professores de Educação Física que também prescrevem treinamento à distância, de certa forma cometendo um erro semelhante. Além disto, muitos profissionais de Educação Física estão se submetendo a somente repetir "modelos" de prescrições do treinamento sem considerar alguns princípios do treinamento como a individualidade biológica ou a especificidade ou sem avaliar criteriosamente os praticantes. Repetição de procedimentos pode ser feito por qualquer um, seja profissional ou não, pessoalmente ou à distância. Uma adequada utilização dos conhecimentos específicos da formação em Educação Física, pode resultar até em sugerir que determinadas pessoas não pratiquem determinadas modalidades – mas uma regra de mercado pode estar impedindo isto: não se pode perder "clientes". E isto vem sendo acompanhado de "certificações" disponíveis cujo interesse é somente divulgar uma marca no mercado, crescer a empresa e captar clientes, independente também dos conhecimentos da formação em Educação Física; agora, o mais significativo é que isto vem sendo feito justamente por pessoas que também estão criticando pessoas (vejam o debate recente na nossa área sobre os "coaches" em parques e praças) sem formação em Educação Física. Parece contraditório...?
Para finalizar, fica uma pergunta para ser devidamente analisada e respondida dentro da nossa especificidade profissional, essencial para justificar nossa posição no mercado e consequente valorização:
Você prescreve exercício ou prescreve treinamento?
Esperamos que aproveitem cada dica e que possam interagir conosco, apresentando críticas e sugestões, através das nossas redes sociais:
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