SÍNDROME BOURNOUT - RECONHEÇA-A
- Nicholas Somers
- 3 de abr. de 2016
- 6 min de leitura
Este artigo foi desenvolvido por Daniel Alvarez Pires, Doutor em psicologia do esporte em exercício pelo LAPES (Laboratório de Psicologia do Esporte), UFMG.
Como está sua relação com o seu ambiente de trabalho? Você sentia prazer e motivação antes, mas agora vivencia percepções de estresse, sente-se frustrado e trata as pessoas ao seu redor de forma impessoal? Se você era muito envolvido afetivamente com os seus clientes, com os seus pacientes ou com o trabalho em si, mas com o passar do tempo sua ocupação foi se transformando em uma fonte de estresse crônico, você pode estar sofrendo da síndrome do esgotamento profissional, ou síndrome de burnout, caracterizada pela perda do sentido de sua relação com o trabalho.
MAS O QUE É ESSA SÍNDROME?
Antes de abordar o burnout, é importante esclarecer o significado da palavra síndrome. Trata-se de um conjunto de sintomas associadas a uma patologia. Por isso, considera-se o burnout como um fenômeno multifatorial, composto pela interação entre sintomas.
Essa síndrome é um objeto de estudo recente na Psicologia. O primeiro a mencioná-la foi Freudenberger [1], que a definiu como a exaustão advinda do excesso de demandas de energia, força ou recursos. Uma das principais pesquisadoras internacionais na área do burnout, Maslach [2] o define como uma síndrome caracterizada pelo esgotamento físico, psíquico e emocional, em decorrência de trabalho estressante e excessivo, feito de maneira crônica, podendo levar o indivíduo a uma desistência do seu trabalho.
QUAIS SÃO OS ELEMENTOS CENTRAIS DESSA SÍNDROME?
A síndrome de esgotamento profissional é composta por três elementos centrais [2]:
• Exaustão emocional: Representa o componente do estresse no burnout. Caracteriza-se por sentimentos de desgaste emocional e esvaziamento afetivo;
• Despersonalização: Representa o componente do contexto interpessoal no burnout. Caracteriza-se por reação negativa, insensibilidade ou afastamento excessivo do público que deveria receber os serviços ou cuidados do profissional;
• Reduzido senso de realização: Representa o componente de autoavaliação no burnout. Caracteriza-se pela diminuição do envolvimento pessoal no trabalho, sentimento falta de sucesso e de diminuição de competência no trabalho.
O burnout passou a ser reconhecido como um risco ocupacional para profissões que envolvem cuidados com saúde, educação e serviços humanos [3], por isso está catalogado com o código Z73.0 no grupo V da Classificação Internacional das Doenças – CID-10.
Em países como a Holanda, cerca de 10 a 15% da população de trabalhadores sofrem de burnout, contribuindo para um gasto de saúde pública de aproximadamente 5,5 bilhões de reais com as doenças relacionadas ao estresse no trabalho [4].
INTERESSANTE, MAS QUALQUER PROFISSÃO TEM A MESMA PROBABILIDADE DE DESENVOLVER ESTA SÍNDROME?
A ocorrência da síndrome é mais frequente nas profissões conhecidas como de “ajuda”, aquelas nas quais o profissional é diretamente responsável por promover benefícios em outras pessoas, como pacientes, clientes ou alunos. São considerados exemplos de profissões de ajuda os policiais militares, médicos, enfermeiros, advogados e professores. Além dessas profissões, profissionais do ambiente esportivo (atletas, treinadores, árbitros) e professores de Educação Física também têm apresentado manifestações de burnout [5].
Nos últimos anos, parcela significativa dos professores da rede pública de ensino tem desistido da atividade docente. A ausência de infraestrutura adequada, os salários pouco atraentes e o clima de violência crescente no interior das escolas podem ser fatores determinantes no processo de esgotamento profissional dos educadores. Os professores de Educação Física também estão suscetíveis à manifestação dessa síndrome, apesar de apresentarem menor incidência do que professores de outras disciplinas. Tal diferença provavelmente possa estar relacionada aos diferentes ambientes de trabalho e a maior realização de atividade física [6].
ENTÃO QUER DIZER QUE A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA PODE AUXILIAR O NÃO DESENVOLVIMENTO DO BURNOUT?
Nesse contexto, a prática de atividade física se constitui em um dos elementos de prevenção do burnout, pois possui mecanismos que promovem a redução do estresse e a elevação da sensação de bem estar. Outro ponto favorável à prática de atividade física é que ela atua no equilíbrio entre trabalho e lazer, pois a ocorrência da síndrome tem sido reportada com maior frequência em profissionais considerados perfeccionistas e integralmente dedicados às suas tarefas de trabalho, com pouco tempo reservado para a prática de atividade física e o convívio em família e com os amigos.
De acordo com a Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte (ISSP) [7], a atividade física regular e cientificamente controlada pode ter os seguintes benefícios psicológicos:
• Redução do estado de ansiedade;
• Redução do nível de depressão moderada;
• Redução da instabilidade emocional e da ansiedade;
• Redução de vários sintomas de estresse;
• Produção de efeitos emocionais positivos.
Para potencializar os efeitos positivos da atividade física na prevenção e no controle do estresse e do burnout, são recomendados exercícios de intensidade moderada, com duração em torno de 20 a 60 minutos e com frequência de 2 a 3 vezes por semana. Também é importante que o exercício escolhido seja motivador e prazeroso para o praticante. Por fim, recomenda-se praticar exercícios junto com um grupo de amigos [8].
E O QUE MAIS EU POSSO FAZER PARA PREVENIR O BURNOUT?
Além da atividade física, outros fatores de prevenção de burnout envolvem mudanças na cultura da organização do trabalho, estabelecimento de restrições à exploração do desempenho individual, diminuição da intensidade de trabalho, diminuição da competitividade e busca de metas coletivas que incluam o bem-estar de cada um. É importante que o trabalhador seja cuidado por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, que dê conta tanto dos aspectos de suporte ao sofrimento psíquico quanto dos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho [9].
O tratamento da síndrome envolve o emprego de estratégias de enfrentamento do estresse, conhecidas como coping. Exemplos de coping consistem em ter uma postura mais positiva diante dos problemas de trabalho, procurar por suporte social e a elaboração de metas equilibradas entre curto, médio e longo prazo. Porém, Maslach [2] comenta que livrar-se de um problema negativo não é o mesmo que chegar a uma alternativa positiva. Nesse sentido, as intervenções para reduzir o burnout somente serão eficazes se levarem em consideração a retomada do engajamento da pessoa em relação ao seu trabalho, visto que o engajamento é a antítese do burnout.
O QUE LEVAR PARA O DIA A DIA:
Concluindo, é importante estar atento e avaliar continuamente as relações que você estabelece com seu trabalho. Perguntas do tipo “estou me sentindo exausto?”, "tenho obtido a realização profissional que havia planejado antes de assumir esse emprego?” e “apresento bom relacionamento com as pessoas com quem e para as quais trabalho?” podem ser úteis no reconhecimento da manifestação da síndrome de burnout. Independentemente de você apresentar ou não sintomas de burnout, lembre-se de que a atividade física é um elemento essencial para a prevenção e o tratamento da síndrome. Portanto, exercitar-se deve ser uma das prioridades na sua vida. A escolha por um estilo de vida fisicamente ativo terá consequências positivas não apenas para o seu bem-estar físico, mas também para o seu bem-estar psicológico e para o seu bem-estar no trabalho.
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REFERÊNCIAS:
1. FREUDENBERGER, H. J. The staff burn-out syndrome in alternative institutions. Psychotherapy: theory, research and practice, v. 12, n. 1, p. 73-82, 1975.
2. MASLACH, C. Entendendo o Burnout. In: ROSSI, A. M.; SAUTER, S. L. (Orgs.). Stress e Qualidade de Vida no Trabalho. São Paulo: Atlas, 2005, p. 41-55.
3. TRIGO, T.; TENG, C. T.; HALLAK, J. E. Burnout syndrome and psychiatric disorders. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 34, p. 223-233, 2007.
4. DANHOF-PONT, M.; VEEN, T.; ZITMAN, F. Biomarkers in burnout: a systematic review. Journal of Psychosomatic Research, v. 70, p. 505-524, 2011.
5. PIRES, D. A.; SANTIAGO, M. L.; SAMULSKI, D. M.; COSTA, V. T. A Síndrome de Burnout no Esporte Brasileiro. Revista da Educação Física / UEM, v. 23, n. 1, p. 131-139, 2012.
6. VALÉRIO, F. J.; AMORIM, C.; MOSER, A. M. A Síndrome de Burnout em Professores de Educação Física. Revista de Psicologia da IMED, v. 1, n. 1, p. 127-136, 2009.
7. ISSP (International Society of Sport Psychology). Position statement: physical activity and psychological benefits. ISSP Newsletter, v. 2, n. 2, 1991.
8. SAMULSKI, D.; COSTA, I.; AMPARO, L.; SILVA, L. Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida. Em: SAMULSKI, D. Psicologia do Esporte: conceitos e novas perspectivas. Barueri: Manole, 2009. 2. ed. p. 357-382.
9. BRASIL, Ministério da Saúde do Brasil, Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde do Brasil, 2001.
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